Manejo de abelhas pode aumentar produção de mel em 500%

Manejo inspirado em técnicas
argentinas deve alavancar produção de mel no MS e lança novas
perspectivas para a apicultura em todo o País. Em média o brasileiro
consome 160g de mel por ano, mas a demanda do mercado é tanta que
entrepostos comerciais, como o Vovô Pedro, já foram obrigados a buscar
mel até em Rondônia para atender os fornecedores. O produto e seus
derivados também são muito procurados por suas propriedades cosméticas e
nutricionais. A qualidade de vida não se limita ao consumidor, afirma
Gustavo Bijos. “Com até 300 colmeias um apicultor pode trabalhar uma
semana e folgar a outra”. Também apicultor, Adriano Adames concorda: “É
uma atividade que se paga em um ou dois anos. Com esse manejo
diferenciado não conheço nada que dê mais lucro!”, empolga-se.
Nem o calor abafado do cerrado
brasileiro e nem as barreiras do idioma desanimaram Jirka Cabalka. Aos
57 anos de idade – 30 dos quais dedicados à criação de abelhas
– o tcheco apenas arranha o inglês e não entende uma palavra de
português, mas a tudo anotava e fotografava. Desde domingo (27) o
apicultor está em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, visitando fazendas
de produção de mel e conhecendo um projeto que promete alavancar o estado para uma posição de destaque no cenário apícola nacional.
O guia de Cabalka em sua viagem é Gustavo
Bijos, presidente da FAEMS (Federação de Apicultura e Meliponicultura
de MS) e um dos responsáveis pela introdução no Estado de um novo método
que, segundo ele, pode elevar a produtividade média em MS de 20 kg para
pelo menos 70 kg de mel por colmeia/ano. “Isso em uma área ruim!”,
destaca ele. “Em regiões como Três Lagoas e Brasilândia, onde as abelhas
podem utilizar tanto a florada silvestre quanto a de eucalipto,
a produção pode ultrapassar 120 kg”, estima. O valor representaria um
aumento de 500%. Foram essas informações preliminares, divulgadas no site da Federação,
que chamaram a atenção do produtor tcheco para apicultura
sul-mato-grossense. Na semana anterior, Bijos também recebeu um produtor
italiano curioso com a proposta.

Os valores podem parecer irreais tendo em vista que a média nacional é apenas de cerca de 20 kg. No entanto, para o inspetor de mel orgânico
Paulo Dalastra os números são bastante plausíveis. Ele, que trabalha
pela certificação de 72 mil colmeias espalhadas em apiários em todo o
Brasil, afirma que 70% da apicultura do país é voltada para a
complementação de renda. Desta forma, a atividade não recebe grandes
incentivos e o próprio produtor acaba se tornando resistente a qualquer
inovação. “Em relação a outros países o Brasil está na época da pedra
lascada”, afirma Dalastra. No entanto, quando se leva em conta os campos
apícolas, o país está em uma posição privilegiada. “No Canadá, mesmo
com um inverno rigoroso, eles conseguem tirar 120 kg de mel em quatro
meses. O Brasil tem a capacidade de produzir mel durante oito meses com
um clima muito mais estável”.
Aperfeiçoando a Técnica

O ciclo de vida da abelha
operária é de 45 dias, sendo que praticamente metade disso é entre
larva e pupa. “No Brasil, nós costumávamos deixar por conta da natureza o
trabalho de formação dos enxames. Como nós só temos cerca de quatro
meses de florada silvestre, acabávamos desperdiçando metade do período
porque as abelhas ainda estavam se desenvolvendo”, afirma Adames.
A técnica argentina exige um domínio avançado do sequenciamento do
trabalho com a abelha. A proposta é que, em época de queda de florada, o
apicultor se preocupe com a renovação dos enxames e não com a produção
de mel. Desta forma, as abelhas estarão prontas para trabalhar logo no
primeiro dia de primavera.
Além disso, é preciso fornecer espaços
internos rapidamente e trabalhar com a reposição de favos e a troca de
rainhas. Por fim, um dos segredos é a alimentação balanceada e a
suplementação com o complexo de aminoácidos Promotor L, que de acordo com Bijos é um produto execrado pelo produtor brasileiro. “A apicultura no Brasil
ainda é extremamente amadora e quando o produto chegou ao país foi
utilizado de forma errada, o que resultou na morte dos enxames. Na
proporção correta, no entanto, ele é um grande aliado”, expõe.
Multiplicação do conhecimento
Dentro
de 15 dias, Dalastra vai começar a aplicar a técnica de Adames nas 400
colmeias de seu apiário. Uma de suas vantagens é que ela oferece altos
índices de produtividade em enxames fixos. “Eu já conseguia tirar uma
média de 110 kg de mel, só que eu precisava migrar meu enxame três vezes
por ano em busca de novas floradas”, relembra ele. “Agora quem começar
na atividade vai ter uma nova ideia do que é a apicultura. É um grande
salto, o Brasil inteiro deveria copiar esse modelo”, complementa.

No Mato Grosso do Sul a multiplicação
deste conhecimento já está em andamento. Em novembro de 2012, Adriano
Adames e Gustavo Bijos iniciaram um curso de apicultura
gratuito com duração de um ano para 30 técnicos agrícolas, para que
possam repassar as novas técnicas para os demais apicultores do estado.
“É uma tentativa de nivelar esse conhecimento e mostrar resultado.
Mostrar que a apicultura pode ser a principal atividade econômica de
qualquer produtor”, relata Adames. Os módulos do curso acontecem no
apiário da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco, localizada na própria
capital sul-mato-grossense), escolhido estrategicamente. “Nós pegamos o
apiário do zero, cheio de problemas, com cera velha, enxame sem
padrão... Aquilo que você encontra no dia a dia mesmo. Em 45 dias
aplicando as técnicas conseguimos tirar 40 kg de mel em um período de
queda de florada!”, anima-se Bijos. “Nunca vi uma coisa dessas em 15
anos de atividade”, destacou o veterinário.
Mesmo antes do início do curso, o
agricultor familiar Julio César Salina, de Guia Lopes da Laguna/MS, já
havia começado a utilizar parte das técnicas de Adames. Em sua
propriedade, somando todas as suas 50 colmeias, ele costumava tirar 400
kg de mel. Com a orientação de Adames, o produtor buscou crédito pelo Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar)
do Banco do Brasil e conseguiu investimento inicial para reformar 25
colmeias e adequá-las ao manejo sugerido. Desta forma, trabalhando com
metade dos enxames que no ano anterior, ele finalizou 2012 com 1000 kg
de mel colhidos. Para este ano, com a expectativa de dobrar esta
produção, ele pretende se tornar fornecedor para a merenda escolar, que
compra o mel a preço de mercado. Cada quilo do produto sai por R$ 15.
Foto em destaque: divulgação (UFMS - CPAN / Marcelo Diamante)
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